quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Soltando o verso

Searching for a way to set me free
I see you but you don’t see me

PONTO

Por que palpitas apito do peito
Aperto por pensar perto
Podes pedir paz
Pouco peço
Paro e espero

Parece que importas
Passas à parte
Pisas pequeno
Praticas aproximado

Paralisas no paraíso
Pira sem piripaque
Porta aparece
Para pacato perdão

Perdes o pudor
Aproveitas o pleno
Palavras e promessas
Ponto

......................................................................................................

Palpite infeliz

Estúpido coração
Que palpita sem razão

Troca uma sensação
Pela falta de noção

Sabe que mente
Tão somente

Pára no caminho
Batendo sozinho

O que complica
É o que fica

..............................................................................................................

Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente, que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista... Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes, revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.



Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e
se recusa a envelhecer"

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.

Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta

(Clarice Lispector)


Moon e Bá, de novo para ilustrar. Quer mais? Aqui

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Beijo, me liga!

- Me dá um beijo?
- Numdônão...
- Mas por quê?
- Ora, é seu papel me conquistar.
- E o seu?
- O meu é te provocar...

..........

- Me dá um beijo!
- Como assim? Peraí...
- Ué? Não era conquista?
- Mas invasão bárbara não!

..........

- Me dá um beijo?!
- Hein?
- Esquece...
- Tudo bem...
- Mmmmmmmmmmm...

..........

- Mmmmmmmmmmmmmmmmmmm...
- Mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm...
- Queria te contar...
- Cala a boca e me beija!
- Mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm...

(Melhor pedir perdão que permissão)




"Hay besos que pronuncian por sí solos
la sentencia de amor condenatoria,
hay besos que se dan con la mirada
hay besos que se dan con la memoria.

Hay besos silenciosos, besos nobles
hay besos enigmáticos, sinceros
hay besos que se dan sólo las almas
hay besos por prohibidos, verdaderos.

Hay besos que calcinan y que hieren,
hay besos que arrebatan los sentidos,
hay besos misteriosos que han dejado
mil sueños errantes y perdidos.

Hay besos problemáticos que encierran
una clave que nadie ha descifrado,
hay besos que engendran la tragedia
cuantas rosas en broche han deshojado.

Hay besos perfumados, besos tibios
que palpitan en íntimos anhelos,
hay besos que en los labios dejan huellas
como un campo de sol entre dos hielos.

Hay besos que parecen azucenas
por sublimes, ingenuos y por puros,
hay besos traicioneros y cobardes,
hay besos maldecidos y perjuros.

.........

Yo te enseñe a besar: los besos fríos
son de impasible corazón de roca,
yo te enseñé a besar con besos míos
inventados por mí, para tu boca."

(Trechos de "Besos", por Gabriela Mistral)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mudanças de comportamento

"Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

...

Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez
companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional..."

(Trechos de "Definitivo" - Carlos Drummond de Andrade)


Nada muda, ninguém se transforma, por mais que tente. Dias, semanas, meses, anos se passam no processo, porém não é o virar de uma folha de calendário que vai fazer a diferença. Quando a inadequação é o nome e o desejo é o verbo, a decepção invariavelmente surge como o predicado. Será que a questão é reformular esta sentença? Troque seu sujeito, mude seu verbo que o predicado será outro?

Mas como fazer isso quando a mente grita, o coração late e a vontade é incontrolável? Enquanto isso, encantos vão deixando o coração em frangalhos. E os dias, semanas, meses, anos continuam a passar e só resta absorver e digerir cada história.

Nesses períodos, penso se não seria melhor desistir de tudo, retirar-me para uma montanha e virar um ermitão. Ou então me transformar num canalha insensível que não se importa com nada, arrancar o coração do peito e colocá-lo num freezer. Assim, quando tiver uma recaída, bastará abrir a porta e ver aquilo tudo despedaçado para voltar ao bom senso.

Olha os gêmeos aí de novo ilustrando o post. Não sabe quem? Veja aqui!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ditadura vida

"Melhor ser temido do que amado". A lição de Maquiavel tinha sido muito bem aprendida por ele. Desde que assumiu o governo de sua pequena república, aniquilou a oposição, perseguiu adversários, calou protestos. Mas ainda não estava satisfeito. Logo ali, do outro lado da fronteira, era chamado livremente de ditador cruel, brutal tirano, genocida sanguinário. Achou que precisava dar um "upgrade" em sua imagem.

Por sorte, na mesma época começava o movimento mundial do "politicamente correto". Embora nunca tenha se considerado um "político" (uma de suas primeiras medidas quando tomou o poder foi justamente mandar fuzilar todos que encontrou, num dos poucos momentos em que contou com aplausos do povo), pensou que poderia aproveitar a onda. Protamente ordenou que os (poucos) opositores deixassem de ser assim chamados, passando a ser classificados como "ideologicamente equivocados". Os adversários, por sua vez, viraram os "posicionalmente mal colocados". Já os que ainda conseguiam protestar eram os "vocalmente enganados".

Mas só trocar nomenclaturas não era o suficiente. Travou contato com termos como "responsabilidade social", "ecologia", "sustentabilidade" etc. E foi esta última que passou a ser objeto de sua obsessão. Determinou então que tudo em seu país deveria ser "sustentável", a começar pelas políticas de governo.

Cancelou todos os fuzilamentos. A alegria - e alívio - do povo, porém, durou pouco. logo decretou que as execuções deveriam ser por enforcamento. Afinal, eles iriam estimular o plantio de árvores para pendurar os condenados, de sisal para fazer as cordas etc. Além disso, os corpos poderiam ser usados como adubo, sem o risco da contaminação da terra por chumbo e outros metais pesados usados nas balas. Ficou feliz: era o criador do primeiro "genocídio sustentável" da história mundial!

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Off topic

É, não consegui fechar nenhum dos textos que estava aprontando para o post desta semana... Então, deixo para meus parcos leitores genial monólogo de "American gods", por Neil Gaiman, sobre crenças. Afinal, como bem disse Martinha, de quem roubei a frase, o que importa é o que acontece entre a São José e o São João!

I can believe things that are true and I can believe things that aren't true and I can believe things where nobody knows if they're true or not. I can believe in Santa Claus and the Easter Bunny and Marilyn Monroe and the Beatles and Elvis and Mister Ed.
Listen – I believe that people are perfectible, that knowledge is infinite, that the world is run by secret banking cartels and is visited by aliens on a regular basis, nice ones who look like wrinkledy lemurs and bad ones who mutilate cattle and want our water and our women.
I believe that the future sucks and I believe that the future rocks and I believe that one day White Buffalo Woman is going to come back and kick everyone's ass. I believe that all men are just overgrown boys with deep problems communicating and that the decline of good sex in America is coincident with the decline in drive-in movie theaters from state to state.
I believe that all politicians are unprincipled crooks and I still believe that they are better than the alternative. I believe that California is going to sink into the sea when the big one comes, while Florida is going to dissolve into madness and alligators and toxic waste.
I believe that antibacterial soap is destroying our resistance to dirt and disease so that one day we'll all be wiped out by the common cold like the Martians in War of The Worlds.
I believe that the greatest poets of the last century were Edith Sitwell and Don Marquis, that jade is dried dragon sperm, and that thousands of years ago in a former life I was a one-armed Siberian shaman.
I believe that mankind's destiny lies in the stars. I believe that candy really did taste better when I was a kid, that it's aerodynamically impossible for a bumblebee to fly, that light is a wave and a particle, that there's a cat in a box somewhere who's alive and dead at the same time (although if they don't ever open the box to feed it it'll eventually just be two different kinds of dead), and that there are stars in the universe billions of years older than the universe itself.
I believe in a personal god who cares about me and worries and oversees everything I do. I believe in an impersonal god who set the universe in motion and went off to hang with her girlfriends and doesn't even know that I'm alive. I believe in an empty and godless universe of causal chaos, background noise, and sheer blind luck.
I believe that anyone who says that sex is overrated just hasn't done it properly. I believe that anyone who claims to know what's going on will lie about the little things too. I believe in absolute honesty and sensible social lies too. I believe in a woman's right to choose, a baby's right to live, that while all human life is sacred there's nothing wrong with the death penalty if you can trust the legal system implicitly, and that no one but a moron would ever trust the legal system.
I believe that life is a game, that life is a cruel joke, and that life is what happens when you're alive and that you might as well lie back and enjoy it.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Anatomusa



Os olhos são as janelas da alma e as portas do desejo,
As pontes do encontro e os abismos da perdição.

A boca é a flor da calma e o doce do beijo,
O sabor do encanto e a fonte da união.

O cabelo é a trama da rede e a coroa da ambição,
A perfeita moldura e a cor da paixão.

As mãos são o veludo do toque e a dor do empurrão,
As amarras do porto e o abraço da ilusão.

Os seios são o terreno aberto e as montanhas da aflição,
O convite ao descanso e o caminho da oração.

De cada parte sua eu tiro uma lição,
Mas é você inteira quem roubou meu coração.

Na imagem, novamente os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. Não foi ainda? Então !

domingo, 4 de outubro de 2009

Versões e subversões

Versões podem ser simples plágios. Versões podem ser homenagens. Mas e quando a versão tenta melhorar ou adaptar o original? Quando a versão da história é melhor que o fato, quando se conta um conto e se aumenta um ponto? A versão pode, ou deve, ser uma evolução?

Para os nostálgicos e conservadores, a resposta é quase sempre "nunca!". Para os críticos, "às vezes". Mas penso que elas também podem servir o público tomar contato com obras "esquecidas", ampliar horizontes, criar novas associações, ter diferentes perspectivas.

Comecei a refletir sobre o assunto diante da enxurrada de remakes e refilmagens que Holywood vem produzindo nos últimos anos e vai continuar fazendo nos próximos. Para além da falta de criatividade, o que me perturba são realizações que me forçam a concordar com aqueles nostálgicos e conservadores: certas obras não merecem, nem devem, ser "tocadas" ou alteradas.

Só dois exemplos recentes e em extremos, para não me estender muito. De uma clássica alegoria sobre a paranóia comunista e o medo de uma hecatombe nuclear dos anos 1950, "O dia em que a Terra parou" virou um pirotécnico e vazio espetáculo. E o "Alfie" de Jude Law ia bem até chegar a um fim "redentor" e politicamente correto para o misógino personagem original de Michael Caine.

Mas o que me levou a escrever sobre isso foi uma experiência mais pessoal. Há muitos anos cito nas mais variadas conversas uma crônica do Veríssimo, "Grande Edgar", que aborda um problema do qual sofro: não lembrar nomes ou de onde conheço pessoas que me abordam em certas situações. E minha vergonha só cresce com o fato delas se lembrarem muito bem de mim, me chamarem de "Cesinha" na maior intimidade etc.

Pois bem. Esta semana fui reler um daqueles livros que compilam as crônicas do gaúcho, "As mentiras que os homens contam", e logo a primeira delas era justamente esta (e já estou roubando aqui. Claro que só lembrei o nome da crônica por isso...). Achei que a versão que eu conto é mais engraçada e, porque não dizer, "completa" que a original. Estranhei mais ainda a ausência do punchline final que sempre falei e atribuia ao autor. Então quer dizer que fui eu que inventei este punchline?

Não que o texto do Veríssimo não seja brilhante, como sempre é, mas encasquetei e decidi: vou continuar a contar a minha versão e atribuí-la ao consagrado autor. Mentir mesmo. Afinal, se não gostarem da história, melhor que culpem ao Veríssimo do que a mim!

Na imagem, quadro do surrealista russo Vladimir Kush

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Um sonho de irrealidade


Não te conhecia, e já sabia quem você era.
Te encontrei, e já sabia quem você seria.
Conversamos, e já sabia o que você pensava.
Saímos, e já sabia o que você gostava.
Dançamos, e já sabia como você se movia.
Nos beijamos, e já sabia o que você sentia.
Fizemos amor, e já sabia o que você queria.

Então acordei, e já não sei mais quem sou.

Foto de Miguel Rio Branco, de um ensaio sobre a Vila Mimosa, Rio

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Jornalistas anônimos

Boa noite.
Obrigado por me receberem nesta reunião.
Meu nome é Cesar.
Sou jornalista e há seis meses não consumo notícia.

Meu vício começou cedo.
Aos 10, fui apresentado ao JB.
Tutty, Castelinho, Zózimo.
Oldemário, Evandro e Fritz.

A notícia me pegou cedo.
No rádio de manhã com Haroldo.
Na TV com Leda Hoje, JN de noite...

Daí eu fui fundo neste mundo.
Logo estava lendo O Globo.
De vez em quando, sujava as mãos de azul com um Dia.

E tome Veríssimo, Gaspari, Ancelmo.
Apicius, Millor e Boechat.
Barbara, Dora, Cora e Da-nu-za.



Rapidamente lia cinco jornais por dia.
Consumia Folha. Conheci Simão.
Se o Estadão não chegasse, tinha síndrome de abstinência.
Gazeta Mercantil, Jornal do Comércio e Tribuna!
(Valeu pelo Valor?)

Trabalhar no ramo só piorou a situação.
Passei a correr atrás de furos,
buscar personagens,
ou ao menos uma boa história para contar a meu editor

Mas o fundo do poço foi essa internet.
A compulsão cresceu.
Todos os Times e Posts, Le Monde e Asahis a um clique.

ICQ, Messenger, Twitter.
Clique, clique.
Orkut, Facebook, iPhone.
Clique, clique.

Mas agora estou curado e não consumo mais notícia.
Não tenho e-mail, blog ou iPod,
não participo de redes socias nem tenho celular!

Ah, só mais uma coisa: às vezes eu minto um pouco...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A árvore



Era uma árvore. Mas não como as outras. Era a sua árvore. Cada dia que passava, uma folha caia e outra crescia em seu lugar.

Às vezes caia dourada como o Sol. Em outras vinha cinza de chuva. Ou então rasgada de raiva, amassada de tristeza, verde de esperança, plana de tranquilidade, vermelha de amor, amarela de alegria. Recolhia e as guardava. Um dia, uma folha, e assim a vida seguia.

Até que um dia uma folha caiu, mas outra não cresceu em seu lugar. A princípio nem percebeu. Aos poucos, porém, foi notando os galhos nus e começou a se preocupar. Estará doente? Não a estou tratando bem?

Muito pensou sobre o assunto e neste tempo juntava folhas cinzas e amassadas, escuras e rasgadas. Foi quando percebeu que não importava o número de folhas restantes na árvore, mas a qualidade das que recolhia. Deixou de se preocupar.

Dia após dia passava pela árvore para pegar sua folha. Regozijava-se com as amarelas, admirava as douradas, acalmava-se com as planas, usufruia as vermelhas.

Até que um dia a última folha caiu. Levou-a para junto das outras e parou para admirá-las. Quantas folhas tinha acumulado! E tantas tão douradas, muitas amarelas, várias vermelhas. Observou que mesmo as cinzas tinham sua beleza, as amassadas sua valia, as rasgadas sua razão...

Morreu feliz.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Frases e paráfrases

"O que importa é o que acontece entre a São José e o São João"

"Gostava tanto que desgostei"

"Ficou na dúvida e acabou na certeza"

"É legal até quando deixa de ser"

"Sou uma pessoa fácil: é só fazer do meu jeito"

"Nunca soube o que dizer. Agora falo sem parar"

"Nem sempre o que te faz mal é o melhor para você"

"O problema é que não penso demais"

"Sempre tive coragem, mas nunca quis fazer"

"Tenho um ótimo ouvido, mas uma péssima boca"

"Tudo é uma questão de 'taimintendendo'"

"Eu sabia, mas não esperava..."

"Quem espera, espera melhor sentado"

"O mau caminho é sempre o mais direto"

"Trocava tudo para não mudar nada"

"Não era um diálogo, mas um monólogo a dois"

"Se melhorar, estraga"

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Problema seu/Problema meu

Problema seu!

Não,
O problema não sou eu. O problema é seu!

Se preferes superficialidade,
o problema é seu!

Se preferes a frieza,
o problema é seu!

Se preferes a falta de carinho,
o problema é seu!

Se preferes o mau caminho,
o problema é seu!

Se preferes a incerteza,
o problema é seu!

Se preferes a falsidade,
o problema é seu!

Problema meu!

Não,
O problema não é seu. O problema sou eu!

Se quero alimentar ilusões,
o problema é meu!

Se me encanta uma sereia,
o problema é meu!

Se vivo de fantasias,
o problema é meu!

Se a mim falta alegrias,
o problema é meu!

Se acho a vida feia,
o problema é meu!

Se me perco em confusões,
o problema é meu!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Auto-ajuda

"To everything there is a season,
And a time for every purpose under heaven

A time to build up, a time to break down
A time to dance, a time to mourn
A time to cast away stones
A time to gather stones together" - The Byrds




Seu copo está meio cheio ou meio vazio? Perspectiva e atitude é que fazem a diferença.
Sei, todos temos nossos momentos "pra cima" e "pra baixo", mas a questão é como lidamos com eles. Desejar, sofrer, conquistar, perder fazem parte do jogo. Se quem eu quero não me quer, outra pessoa há de querer. O oceano é grande e o peixinhos são muitos e variados.
O que é preciso aprender é que só podemos controlar e mudar o que se passa dentro de nós. O sentimento ou reação do outro não estão ao nosso alcance. Apenas seja inteiro, seja verdadeiro, seja sincero e honesto consigo mesmo. O resto é consequência.

"Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim" - Carlos Drummond de Andrade


Mais uma vez, a imagem inspiradora, poesia em forma de quadrinhos, vem dos gêmeos
Fábio Moon e Gabriel Bá. Insisto: vai lá!

domingo, 30 de agosto de 2009

Confessionário

"Le choix initial en amour n'est pas réellement permis dans la mesure même où il tend exceptionnellement à s'imposer, il se produit dans une atmosphère de non-choix" - André Breton

"L'essentiel est à mes yeux ceci: aimer un être n'est pas le tenir pour merveilleux, c'est le tenir pour nécessaire" - André Malraux



Eu preciso dizer que te amo...
Bem, eu já disse!
Continuo a te desejar?
E como!
Tenho ciúmes?
Não sei porque!
Quero te esquecer?
Não dá!
Porque você não olha pra mim?
Eu uso óculos...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Conversa de táxi

Quatro da manhã. Marina e Paula tomam um táxi de volta para a Zona Oeste depois de mais uma noite de bom papo, muita champa e saideira no Jobi, claro.... Nos longos quilômetros da viagem, a conversa continua a girar sobre um tema que agitou o fim da noitada: o que fariam se ganhassem a bolada da Mega-Sena acumulada daquela semana?

- Nossa, é muito dinheiro! Não preciso de tanto. Ajudaria os amigos... – diz Marina.

- Boa medida. Não se esqueça de mim! Estou louca para fazer aquele curso na Califórnia – lembra Paula.

- Mas e se fosse você que ganhasse, o que faria?

- Claro que não vou te esquecer também, amiga! Fora isso, acho que passava um ano na esbórnia!

- Um ano, só?! Com tanta grana, acho que passava uns três anos na esbórnia!

- É mesmo, um ano pode ser pouco, principalmente para garotas que gostam de agito como nós...

- Pois é. Champa, bons restaurantes e companhia da melhor qualidade...

Já na Barra, Paula é a primeira a saltar. Logo depois que ela sai, o motorista, que até então se mantinha calado, não resiste:

- Madame, desculpe me intrometer na conversa, mas posso te perguntar uma coisa? Estou com uma curiosidade que está me matando...

- Sim...

- Onde fica essa tal de esbórnia?

Marina duvida de si mesma. “Bebi demais ou ele perguntou isso mesmo que estou pensando?”. Depois de longos segundos de hesitação, ela encontra resposta:

- Não, amigo, você não entendeu... Esbórnia não é um lugar, é um, é um, um estado de espírito!

- Ah não, madame, não fala desse negócio de espírito comigo não que sou evangélico...

- Não! Deixa eu explicar de novo. É assim como um sentimento, fazer as coisas, como estamos fazendo agora...

- O quê? Pegar um táxi às 4 da manhã?

“Ai meu Deus!”, pensou Marina, já quase ficando sóbria diante de tamanha confusão.

- Nada disso, deixa eu explicar de novo. Esbórnia é assim... viver de bem com a vida, sem preocupações, sem responsabilidades, sem precisar trabalhar, sem ter que dar satisfação para ninguém. Entendeu?

- Ah, tá, entendi. Mas onde que fica a esbórnia mesmo? Do jeito que vocês falam, deve ser legal. Bem que gostaria de passear por lá...

Mais um textinho meu em colaboração para o blog da amiga Claudinha, Vim ao mundo a passeio

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dream a little dream of you

Oi, hoje sonhei com você!
Não sei por quê,
Não te vejo há tanto tempo...
Ah, é isso:
A saudade está batendo.
Quando se gosta de alguém,
Distância
Não é esquecimento.

domingo, 26 de julho de 2009

'Dinstâncias'

Menos longe
Mais perto

Dorme o sono
Sonha certo

Menos perto
Mais longe

Outra noite
Cai do bonde

Longe menos
Perto mais

Dá-me um beijo
Não volta atrás

Longe mais
Perto menos

Troca a bola
Perde o senso

Mais perto
Menos longe

Joga a vida
Faz por onde

Mais longe
Menos perto

Ganha tempo
Fica esperto

Longe perto
Menos mais

Chega junto
Tu és demais

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Moto-perpétuo

I must not fear.
Fear is the mind-killer.
Fear is the little-death that brings total obliteration.
I will face my fear.
I will permit it to pass over me and through me.
And when it has gone past I will turn the inner eye to see its path.
Where the fear has gone there will be nothing.
Only I will remain.

(The litany against fear - "Dune", by Frank Herbert)




Alguns dias, como hoje, penso na série "Sandman", de Neil Gaiman, e os Pérpetuos. Mais especificamente em Delírio, que um dia já foi Deleite, e se transformou quando sofreu um trauma nunca revelado.
Quando o deleite vira delírio? E qual a distância disso para Desespero, não por acaso outra dos perpétuos? Isso sem esquecer de Desejo, mais um dos irmãos, que não é personificado como homem nem mulher. São várias as formas que esta história pode ser construída:

Primeiro, você deseja.
Depois, se deleita.
Daí, é um pulo para o delírio.
E tudo acaba em desespero...

Ou então você delira.
Logo entra em desespero.
Busca o deleite.
E acaba só com o desejo.

E ainda você desespera.
Mas não adianta e começa a delirar.
Até que entende que tudo não passa de desejo.
E a vida se torna um deleite...

Como você vai construir sua história? Seu coração é que vai dizer. O importante é nunca deixar de sonhar, delirar, desejar, se deleitar e (por que não?) desesperar de vez em quando também!

"I should warn you: getting what you want and being happy are two quite different things..."
(Desejo em "What I've tasted of Desire - Sandman: Endless nights")

"I have heard the language of apocalypse, and now I shall embrace the silence"
(Delírio em "Going inside - Sandman: Endless nights")


"Her eyes are grey. Her hair is straggly and wet. Her fingers are stubby. The nails are chewed and broken. Her teeth are crooked, jagged things. Her sigil is the hooked ring. One day her hook will catch your heart.
Describing her, we articulate what she is and why she is: when hope is past, she is there. She is in a thousand thousand waiting rooms and empty streets, in grey concrete buildings and anonymous hotels. She is on the other side of every mirror. When the eyes that look back at you know you too well, and no longer care for what they see, they are her eyes.
She stands and waits, and in her posture the pain no longer tells you to live, and in her presence joy is unimaginable"

(Descrição de Desespero em "Portraits of Despair - Sandman: Endless nights")

quinta-feira, 16 de julho de 2009

King Kong de Lilipute

Que o álcool é uma potente ferramenta social não preciso dizer, mas há o momento em que aquela dose passa a ser a mais e, ao invés de libertar da inibição, ele solta uma profusão de micos, gorilas e outros animais menos cotados que, se não nos matam de vergonha, pioram a ressaca. Por isso, em determinadas situações, o melhor é o consumo em ambientes “controlados”.
Foi o que aconteceu num fim de semana destes. Numa providencial medida, amiga recém-casada montou um verdadeiro bar em sua casa. Mesas com tampo de mármore, cooler repleto de cervejas, uísque, vodka, comidinhas e tudo mais que se tem direito. Chamado, não pude resistir ao convite de conhecer o “estabelecimento”.
Cheguei lá já devidamente “calibrado” por algumas doses de puro blended scotch consumidas em almoço de compromisso anterior. No suco de malte estava, nele fiquei. Afinal, é o cachorro engarrafado, mas quem mostra a fidelidade sou eu.
No recinto, apenas o casal anfitrião e mais uma grande amiga, que veio comigo do almoço e também já tinha tomado das suas. Papo vai, papo vem e vamos ficando cada vez mais animados (altos). Logo chega uma outra amiga recém-adquirida, mas tão gente boa que pouco nos importamos com os micos que já estavam escapando da jaula.
Algumas horas e muitos copos depois, a animação chega ao ápice. “Coloca Saltimbancos!”, pede a anfitriã. “Mas tem que ser a música da gata”, emenda a amiga. Pronto, o palco está montado. Som nas alturas, saímos todos a dançar pela sala. Depois de Nara Leão, Miúcha, Ruy e Magro entraram Janis, U2, gritos, abraços, tombos e pulos no sofá.
Se a nova amiga ficou chocada? Não sei, mas o que é pagar um King Kong destes sem platéia, ainda que com dimensões liliputianas. E mais não me pergunte, porque, se eu não lembro, eu não fiz!

PS: Na imagem, mais uma obra dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. Não conhece? Então vai lá!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Loucura pós-moderna

Vejo o que não está
Ouço o que não fala
Penso o que não existe
Fantasio o que não acontece
Quero o que não tenho
Busco o que não acho

É isso mesmo ou só não entendo nada?

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Salsa & Cebolinha

Parabéns, Ceição!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A armadilha

First you captured my eyes, then stole my heart.
And it was my soul that ended up in a prison.

The bars are cold and the floor is wet,
but the heat inside keeps me going ahead.

A prisoner between the walls I built,
locked without being tried or guilt.



Nunca soube direito como agir, e nessas situações sua timidez o deixava ainda mais inepto. Mesmo assim, aqueles olhos o hipnotizavam e não conseguia desviar a vista. Desde que a conheceu a imagem dela povoava sua mente. Além de bonita, era simpática, inteligente, carismática...

Calejado, conseguiu evitar que este encanto se transformasse em uma paixão avassaladora logo de cara. Não conseguiu, porém, apagar de todo a chama que ela despertara. Sempre que sorria o olhar dela se iluminava e, com isso, seu coração ardia um pouco mais.

Dessa forma, aquele sentimento foi crescendo em seu peito, até que chegou o dia em que não resistiu e decidiu se declarar. Mas novamente sua timidez fez com que não fosse da maneira certa. A declaração saiu na hora errada (tarde demais?) e do jeito errado: preferiu escrever no lugar de falar.

A falta de resposta o deixou sem rumo. A frieza, deprimido. A melhor cura, se afastar, não estava a seu alcance: trabalhavam na mesma empresa, tinham muitos amigos em comum. Procurou então responder com indiferença. Não deu certo.

Mudou de estratégia. Resolveu levantar o véu da paixão e enxergar seus defeitos. Se não os tivesse, inventaria. Está gorda. É cheia de ziquizira. Volúvel. Neurótica. Insegura. Imatura. Superficial. Tem chulé! Sem efeito...

Com o tempo, aprendeu a conviver com este sentimento e terminou preso em uma armadilha que ele mesmo montou. Afinal, sempre dizem que, quando você achar "aquela" pessoa, você vai saber. O que nunca dizem é o que fazer quando esta pessoa não está nem aí pra você...

domingo, 28 de junho de 2009

Frida(ys)

Nosso relacionamento foi intenso, mas durou pouco. Não que ela não fosse uma verdadeira gata. Às vezes sua imaturidade me incomodova, mas, por outro lado, o frescor de sua juventude também era estimulante.
Brincamos muito, fizemos companhia um ao outro, dormimos juntos. Simpática e afetuosa, recebeu a aprovação de todas minhas amigas que a conheceram. No geral era carinhosa, mesmo que em determinados momentos gostasse de mordidas e arranhões. Mas eram ataques de amor e carência. Assim, as brigas esfriavam rápido e logo estávamos em paz.
Os dias se passavam e aos poucos conhecia cada vez mais seus gostos. Adorou chocolates e pato, plantas, água de banho e cosquinhas no pescoço.
Hoje, porém, Frida voltou para casa e me deixou novamente só. Vou ficar com saudades...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Conversa de Elevador

O sobe-e-desce é mais estranho do que pensamos. Não, o assunto deste post não é a crise nas bolsas de valores ou o sexo pós-Viagra, mas uma prosaica invenção sem a qual nossa vida seria muito mais cansativa (e plana!): o elevador.

No prédio em que trabalho, temos dois elevadores, um ao lado do outro. Tirando o térreo, todos os outros andares têm dois botões de chamada, um para subir, outro para descer.

Há coisa de umas semanas, fiquei impressionado com a capacidade que algumas pessoas têm de apertar o botão “errado”, isto é, o de subir quando querem descer e vice-versa. E não só isso, mas quando o elevador pára, a figura ainda pergunta “tá subindo?”, mesmo com o óbvio e sonoro aviso luminoso do lado de fora, com uma seta apontando para cima.

O que se segue é uma cara de decepção de quem queria descer (então por que apertou o botão de subir?!), além da vontade enorme de responder “não, tá descendo, o elevador é que tá de sacanagem com sua cara com essa seta enorme aí do lado de fora!”.

Bem, daí é que esta semana pude testemunhar a lógica torta que leva algumas pessoas a cometerem este “erro” dos botões.

Chego para pegar o elevador no 4º andar junto com um dos seguranças da casa, que prontamente aperta o botão de subir. Eu, que quero voltar para minha casinha após um longo dia de labuta, aperto o de descer e comento com ele: “bom, você vai subir e eu quero descer...”.

O elevador chega vindo do térreo e com a seta do lado de fora apontando para cima. Deixo o segurança entrar e penso “pra que passear? Vou tomar uma água no bebedouro aqui do lado e pegar ele na volta”. Ele entra e aperta o botão para o andar que deseja ir. Qual não é minha surpresa que a seta “vira” e passa a apontar para descer? Como assim, a figura não tava subindo? Esqueço a água, interrompo o fechamento da porta, entro e faço exatamente esta pergunta para ele.

Aí vem a explicação que me deixou de queixo caído com sua lógica torta: “não, eu apertei o botão de subir porque o elevador estava no térreo e eu queria que ele subisse para me pegar”. Donde se conclui que, se o elevador estivesse num andar acima e ele quisesse subir, ele apertaria o de descer...

Ah, e ainda tem mais: como são dois elevadores, se um estiver acima e outro abaixo, ele apertaria os dois botões e veria qual chegaria primeiro, não interessa se estivesse subindo ou descendo!

E a histórias de elevadores não param por aí. Não podemos nos esquecer dos que ficam apertando insistentemente o botão, como se isso fosse fazer o dito andar mais rápido; os que entram falando no celular e logo atestam “se a ligação cair é porque estou entrando no elevador”, mas ela não cai e a figura passa a gritar sua conversa para compensar o mau sinal; os que ficam parados bem na porta, não dando espaço para os outros passageiros passarem para entrar ou sair; os que pegam o elevador para subir ou descer apenas um andar.

Mas tudo isso fica para outros posts. Afinal, eu vim ao mundo a passeio, nem que seja para ficar passeando de elevador...

Texto meu originalmente enviado e publicado no blog "Vim ao mundo a passeio", da amiga Claudinha

terça-feira, 23 de junho de 2009

De virar a cabeça



Fui ontem na vernissage de abertura da exposição "Virada Russa" no CCBB. Desnecessário dizer que amei ver os (poucos) originais de Kandinsky e o (único) Chagall entre as mais de 100 obras. Só isso, mais uma boa dose de Malevichs, já valeria a visita.
Mas de que vale ir a uma exposição de arte se não houver a descoberta de novas maravilhas? Desta vez, saí impressionado, babando e adorando "um certo" Pavel Filonov (Acima, o quadro "Fórmula da Primavera"). Fina arte, como fino é o tecido que seu nome evoca. Não percam!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A sabedoria de Tyche

Acaso, destino, sorte, coincidência, mensagem do além ou auto-sugestão? Às vezes os desígnios da Fortuna (ou a grega Tyche do título aí de cima) me deixam abismado. Conto:
Sábado, a noite chegando e não sei o que fazer de mim. Após telefonemas e mensagens aleatórias (olha Tyche aí de novo!), bate no meu celular uma resposta que cabia no que eu achava que precisava/podia naquele momento. Um sarauzinho depois de uma peça baseada na obra de Fernando Pessoa, na companhia de uma pessoa que gosto e tem carinho por mim (e bem que eu estava precisando...).
Um ator vestido como o poeta carrega uma cesta de pápeis enroladinhos com poemas e trechos de "Cartas de amor". Um ano atrás, na mesma data, havia entregue uma delas, coisa que não fazia desde que posso me lembrar. No final da carta, parafraseava/citava o mesmo Álvaro de Campos, lembrando como todas as carta de amor são ridículas.
Pois bem. Meto a mão na cesta e tiro um dos canudinhos. Abro e...

"Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme."

Recebo o baque boquiaberto. Um recado de 1933 para o que se passava na minha cabeça nos últimos dias, neste longínquo 2009. Quer saber? No creo en brujas, pero que las hay, las hay!

PS: E não, não recebi uma resposta da minha carta até hoje...

'Corrida Maluca' na vida real

E não é que botaram Penélope Charmosa, a Quadrilha de Morte, Dick Vigarista e o resto da trupe para correr de verdade na Inglaterra:


Confiram a notícia aqui

terça-feira, 9 de junho de 2009

Gêmeos gênios

Os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá mandam mais uma pérola em forma de HQ no "Quase nada 027":



Confiram mais aqui

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pornografia democrática

Interessante artigo no Le Monde Diplomatique, pinçado pela amiga Dani D. Alguns trechos:

"Queríamos fazer uma pornografia com o odor de Walt Whitman...
Uma pornografia livre como uma grafia do corpo livre, como uma geografia da alma livre...
Contaminar os desejos padrões com novos itinerários. É de desejo que falamos, e de direitos sexuais...
É preciso outras pornografias, sentir desejo pela ruga, pela fuga, pelo que não se inscreve como corpo-de-consumo. Pelo que escapa do formato do objeto, do abjeto, do dejeto. Permitir que as singularidades sexuais levantem, sacudam a poeira.
Se não fizermos isso, somos coniventes com as sobras da produção massiva de desejo erótico: as gordas idosas senhoras de um lado e os aleijados do outro, os jovens franzinos de um lado e as jovenzinhas de um só olho de outro. Todos esperando o Reynaldo Gianechini. Ou seja, produção de escassez".

Interessou? Então dá uma checada lá

Natureza bela


Ansel Adams

Sobre o blog

Histórias baseadas na vida irreal.
Ficções inspiradas por fatos verdadeiros.
Aforismos, achismos e silogismos.
Falácias, sinedoques e sofismas.

Poesia, prosa e música.
Fotografia e arte.
Cinema e TV.
Teatro e dança.

Um pouco de tudo.
Muito de nada.

Essa é a idéia.

Bem-vindos!
 
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