quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Custódio e o mistério do motel 1


CAPÍTULO 1


Eram duas da manhã quando Custódio acordou sobressaltado com o telefone. Do outro lado da linha, imediatamente reconheceu a voz do delegado Pedrosa.

- Custódio?!

- Sim delegado...

- Preciso que você vá imediatamente para o Motel Shrine, lá na Niemeyer!

- Mas doutor, meu plantão é só no domingo...

- Não interessa, depois a gente acerta. É um daqueles abacaxis que só você pode descascar. Chegando lá o Palhares te explica tudo.

- Sim senhor, já estou indo.

Desde que entrou na polícia, há 10 anos, caíam nas mãos de Custódio os abacaxis, pepinos, batatas quentes e todas as outras analogias com frutas, legumes e tubérculos de difícil lida que se possa imaginar. Era o preço a se pagar para ficar na Delegacia do Leblon, perto de casa e da praia, razão principal porque tinha trocado a gélida Londres pelo por vezes sufocante Rio de Janeiro.

A essa altura, Custódio poderia ser delegado, mas, além da política em torno do cargo, isso significaria ficar longe do Leblon. Assim, resolvia os casos mais difíceis para os chefes e eles o deixavam quieto no seu canto. Afinal, para o delegado Pedrosa, o detetive Palhares e o carcereiro Pimenta – a quem particular e carinhosamente apelidara dos “Três ‘Ps’ da Porrada” – técnicas de investigação se resumiam a paus-de-arara, choques elétricos, baldes d’água ou qualquer outra forma de fazer porcos confessarem ser coelhos, o que para muitos casos era o que bastava. Como dizia Pedrosa: “Esses caras, se ainda não fizeram merda, vão fazer”.

Para uns poucos, o “corretivo” servia de lição e eles nunca mais passavam por uma delegacia. Para outros, era o momento da confissão, que nada adiantava devido aos inquéritos frouxos que resultavam na não abertura de processos nos tribunais. Para a maioria, no entanto, só servia para aumentar a revolta. Esses quase invariavelmente acabavam de volta no sistema penal ou no IML com três tiros na cabeça e um auto de resistência assinado por um PM. “Isso sim é que é polícia”, pensaria um cidadão ingênuo diante de tamanha precisão nos disparos.
 
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