quarta-feira, 17 de março de 2010

Custódio e o mistério do motel 2

Madrugada de Quarta de Cinzas. "É só até hoje, amanhã não tem mais!", os foliões cansados, as fantasias gastas, pensou Custódio. Aprontou-se e saiu para a rua. Ainda podia ouvir o barulho dos tambores, os gritos dos embriagados, sentir o fedor da urina e tropeçar no lixo do carnaval. Gostava desta época do ano. O caos o afugentava e ao mesmo tempo atraía. Os crimes aumentavam, mas os verdadeiros desafios de vez em quando apareciam. "É só mais um turista ou diplomata importante que foi roubado", especulava no caminho. Tinha decidido não esperar a viatura e ir a pé até o Vidigal.

Custódio gostava daquele canto do Rio. Pouco saía dali. Fora criado em outro clima e ambiente. Quando chegou tinha pouca ideia do que iria encontrar. Aos poucos, foi oferecendo seus préstimos em situações difíceis. A mãe brasileira, não foi difícil obter a nacionalidade. Ainda assim teve que enfrentar muita burocracia, o que foi uma certa forma de adaptação. Não era exatamente o que seu pai tinha em mente quando fugiu da ditadura de Salazar.

O começo foi duro. Custódio se dedicava a casos particulares, em geral encontrar objetos desaparecidos, na maioria jóias de família. Nesses casos, apesar de quase sempre o contratante indicar a empregada doméstica como principal suspeita, os responsáveis eram ou o filho drogado, ou a filha vadia, ou a mulher infiel ou o esposo falido.

Um dos objetos mais estranhos que já pediram a Custódio para localizar foi uma boneca inflável, “namorada” do filho doidão de um poderoso industrial. Dizia ele que era a melhor mulher que já tinha conhecido: “Não fala, não reclama e não consome minhas paradas!”. Isso, no entanto, não impediu que o maluco levasse um belo par de chifres. O jardineiro, no maior atraso, tinha pego a boneca e tencionava devolvê-la antes que dessem falta da “namorada”. Um ancinho no barracão de ferramentas, porém, estragou seus planos e ele tentou esconder o “crime” enterrando a dita num canteiro. Nada que um remendo no borracheiro e um pouco de esmalte não tenham resolvido e o doidão pôde continuar vivendo sua história de amor.

Por essas e outras, Custódio decidiu manter distância de casos de traição conjugal, “arroz-com-feijão” de seus colegas brasileiros e “bread-and-butter” dos britânicos. Seu sucessso e discrição em situções do tipo, no entanto, acabaram lhe garantindo fama entre algumas pessoas influentes e, consequentemente, uma sinecura na polícia carioca. Oficialmente era um inspetor e deveria cumprir funções burocráticas de supervisão do trabalho dos detetives. Na prática, tomava conta da feira de difícil lida.
 
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